A NATUREZA MANDA LEMBRANÇAS
O que nos move? O medo natural da morte, de perder alguém que amamos? A consciência coletiva, a empatia social? O conhecimento de causa, a potencialidade do vírus? A imprevisibilidade dos sistemas complexos, a mutabilidade dos sistemas simples? O pânico, a falta de informação? A ambição, o egoísmo? O idealismo político, a fé? COVID-19. Um para cada espécie. Pesquisando um pouco, conseguimos sem muita dificuldade identificar algumas coisas, o Coronavírus é um vírus antigo, cheio de ramificações, tipos e mutações (CCov, FCov, SARS, MERS). Tanto é que se você olhar a carteirinha de vacinação do seu Pet, como eu olhei a da Holi, verá que eles tomaram várias vacinas contra aquele que acomete os cães e talvez, momentaneamente, você se sinta como eu mesma me senti, mais vulnerável do que a sua companheira canina. Diferenças à parte, li com atenção o que a veterinária dela digitou: “os vírus existem no mundo antes do ser humano e todas as espécies sofrem mutações, quanto menor o conteúdo genético, ou seja mais simples, mais fácil ocorrerem as mutações. O grande problema aconteceu desde que a mutação foi capaz de causar a morte. Porém, tudo indica que o Coronavírus é apenas a gota d'água. Os mortos tem associadas outras causas de risco: diabetes, fumantes, asma, hipertensão, câncer...” ainda mais orgulhosa por ter ela como veterinária da Holi, atentamente continuei lendo “porém, ainda sabemos pouco sobre o novo vírus, sabemos que a taxa de transmissão é alta, mas a mortalidade é baixa. De todo modo, não queremos perder nossos amigos e parentes, por isso, devemos evitar ser um transporte de vírus. O pior não é o vírus, mas a reação das pessoas à ele”. Neste momento, confesso que eu já estava sentindo uma espécie de inveja branca da minha amiga canina. Emoções à parte, parece que o momento em que vivemos hoje, nos relata algo muito mais à respeito de nós mesmos, do que de qualquer outra coisa ou pessoa. É muito mais como lidamos com a situação do que como a própria situação se manifesta. Quem são os culpados? Ou, Como éramos e o que nos tornaremos com isso? Ao ler as matérias mundiais, não tive como não me emocionar com a situação dramática vivida pela Itália, aonde a melhor despedida, são as cinzas. Foi inevitável perguntar porque com a Itália? Porque o epicentro em Wuhan? Como eram estes locais antes da pandemia? O que os tornou tão suscetíveis? O alto índice de fumantes? As más condições de higiene básica? O excesso de turistas? A população idosa? A alimentação exótica? A demora do governo na percepção da gravidade? Como não pensar que os que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade serão sempre os mais brutalizados? E como está sendo no Brasil? E em Santa Catarina? No início desta semana, pude sentir gratidão, pelo fato do nosso Governador ser um bombeiro de carreira. Uma pessoa muito acostumada ao zelo pela vida e a tomada de precauções rápidas e objetivas. E assim ele permanece, cada dia mais exigente, mais corajoso e atento. Anteontem muitas pessoas lotaram os mercados. Muitos estão questionando, mas confesso que pensei da seguinte maneira: se elas foram para comprar os seus mantimentos (sem exageros, é claro) com o objetivo de evitarem sair das suas casas nos próximos dias, ótimo. À partir de hoje, a circulação dos consumidores é limitada nas padarias, farmácias e supermercados. Inclusive com alguns itens restritos por unidades. Ontem recebi muitas fotos, de folhas de palmeira, ungidas com ou sem água benta, colocadas nas portas das casas de famílias de Guabiruba e Brusque, com um laço branco em volta. Em sinal da sua fé e de esperança, manifestando a crença de que Deus os ajudará a enfrentar o que é que estiver porvir. A polícia circulou pelas areias brancas das praias, retirando os últimos banhistas teimosos. Notificou alguns comerciantes e fez rondas pelas cidades. Atenta. De guarda. E assim, o movimento das ruas vai silenciando cada vez mais. As pessoas vão compreendendo ou vão sendo obrigadas a cumprir os decretos, que não param de ser emitidos. O comércio amanhece fechado, as pessoas em casa, acompanhando tudo com preocupação. Muitos olhos na janela, crianças nos pátios e mães atribuladas com o almoço, com a esterilização da casa e a tentativa de manter os idosos ocupados, para que não saiam às ruas. Algumas indústrias fechando, outras anunciando a sua quarentena para após o final de semana. Umas por consciência social, outras por estarem sem suprimentos ou terem pedidos cancelados. As barreiras terrestres do país se fecharam e também de várias cidades do nosso Estado. Os soldados da saúde permanecem. Por todos! Na linha de frente deste combate. Ouvi um áudio de uma enfermeira que disse: fizemos faculdade para isso e aqui estamos! Verdade, é o dever delas. E o nosso? O nosso dever? Para nós, resta: parar! “Zu Hause sein”. E o que eu descobri com tudo isso? Descobri que o que nos move, automaticamente nos obriga em algum momento à parar. Seja, para escutar, para observar, para olhar as estrelas no céu e tantas outras maravilhas que nos cercam. E isso, por bem ou por mal, é como um mal necessário. Voltar às origens. Se dar conta da nossa própria finitude. Da responsabilidade que temos sobre a nossa vida e a vida de quem amamos. Do que realmente nos importa e de quão distante disso nos encontramos. Em tempos como este, muitas coisas ficam claras e cristalinas: que os que amamos é o que nos resta, que a vida não é para sempre: mas ainda a mais útil e o que realmente nos importa. E finalmente, que apesar da complexidade da sociedade, do autoelogio de “ser-humano”, a natureza supera à tudo, como diria um amigo e sociólogo ausente “em sua realidade objetiva, que independe de qualquer sujeito.” Estamos aqui!
parados em silêncio
ouvindo um apelo uníssono “ao eterno retorno à ser vivo”.