Brasil: pré-democrático
“Há algo maior que o poder, que se chama justiça”. André Malraux
O sangue esquenta e o grito de alívio com a recusa do TC de Lula, saí rompendo gargantas verde-amarelo. Seria alegria e orgulho, caso não houvesse necessidade de vigiar, de sair as ruas ou colocar advogados e desembargadores em fila, para expor suas centenas de argumentos técnicos.
A necessidade de vigília militar.
Onze horas demagogas, demoradas demais para um país que se diz democrático. Placares apertados entre o seio da população inflamada. Como pode demorar tanto a justiça a ponto de dar sono?
Ela que deve ser cristalina, inequívoca e pronta a execução em civilizações humanas. Rodopia de pé em pé, sobre sapatos de grifes, a enosar colarinhos brancos. Trânsitos em julgado, dependendo do condenado.
Lhe falta razoabilidade, “serenidade”, respeito. Às duas da manhã ao recostar a cabeça sobre o travesseiro cansado, ainda não me senti justiçada, ainda não me sinto segura. Como eu suspeitara anos atrás, o Brasil é apenas mais um dos países pré-democráticos, a cada passo adiante, deixa suas marcas enlameadas.
Anima a coragem e a luta do brasileiro honesto, que dia após dia de trabalho duro, ainda recobra fôlego e sai em marcha “gritando” seus direitos. O único ganho de toda esta luta, é que hoje sabemos um pouco mais sobre nós mesmos. Um pouco mais sobre o que significa ser brasileiro em um país que ainda não tem sua democracia instaurada. Um pouco mais e o suficiente para nos ater-nos a única verdade: a pátria somos cada um de nós e são dos nossos passos firmes e determinados que ela, exclusivamente, depende.
Um dia, talvez em um amanhecer, ao acalentar nossos filhos ao colo, embalemos eles em sons diferentes. A marcha seja alegre, espontânea. Justa. Na medida do nosso esforço e dos nossos sonhos.
Minhas escusas, data vênia: em não comemorar este momento.