escrevendo o Canto do cisne
ESCREVENDO O CANTO DO CISNE
Quando a ponta do pé alcança o abismo, o corpo se precipita, bailando os resquícios de sanidade que ainda esbravejam abaixo da pele. A respiração ofegante, o compasso descompassado do coração que sai pela boca. Uma prece, súplica desesperada. Espasmo, convulsão, olhos saltados.
Feito raiz, os nervos se contorcem. Sofrem. Torcem e contorcem. Uma voz ressoa sobre o coração, roçando o peito a peito: um pouco mais, um pouco mais. Das guerras do mundo, não há luta maior, do que o pulso da vida. Ninguém deseja noite!
Toda morte, causa estragos individuais. Marca a ferro, autentica. Cada qual com seus revezes.
A morte do outro, nos tira um pedaço nosso.
Algo que por simbiose, avança tentáculos e toma para si, através das suas extremidades. Incorpora!
Um eu em excesso de nós dois. Um ente fantasma que encena monólogos eternos de dor. O cisne branco que emudece em vida e canta quando é chegada a sua hora. Outros, a vida os consome, lentamente,
entre berros e grunhidos.
Pouco tem de culpa, o tempo. Não nos convém: se passado, nada devolve, se futuro, nada se tem. O que nos preocupava era a morte, mal sabíamos que o difícil seria justamente a vida! Toda falta, faz barulho. Perturba toda vida, não há refúgio
para o oco da saudade.