Spleen, volume I
A obra “Spleen, volume I”, surgiu do recorte de uma coleção de mais de 300 poesias, escritas na época da adolescência. Ecoa pelos versos das suas 39 poesias e anuncia em sua última página o segundo volume da obra, que tem o propósito de virar livro e encerrar as publicações poéticas desta coleção. Estas adentram no universo feminino e relatam amores e (des)amores, expectativas e frustrações. Entre beijos e sorrisos, silêncios e poesias, noites escuras e luas abrasivas. Tem como pano de fundo o cenário ultrarromântico e seus principais temas: morte, amor não correspondido, tédio, insatisfação, melancolia, descontentamento, pessimismo; ou, por outro enfoque: profundo subjetivismo, sentimentalismo exacerbado, pessimismo e melancolia, egocentrismo e individualismo, fuga da realidade, escapismo, saudosismo. O relato de um retorno verbal aos clássicos de cada autor, ao próprio passado vivido em companhia de Luís de Camões, José de Alencar, William Shakespeare, Oscar Wilde, Homero, Goethe, Baudelaire, Rimbaud, Lord Byron, Alfred de Musset, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
“Ó lua, ó lua bela dos amores,
se tu és moça e tens um peito amigo, não me deixes assim dormir solteiro,
à meia-noite vem cear comigo!”
(Trecho do poema Solidão,
da série Spleen e Charutos,
de Alvares de Azevedo)
POR DEPOR DETRÁS DA CAPA
do Spleen, volume I
"Sophie", com seus olhos grandes e fixos, ligeiramente arqueados para baixo, sua boca carnuda e rubra, rubra como suas bochechas salteadas na face marcada pela brancura, seus cabelos jogados sobre seus ombros, e no centro de sua roupa os “amores-perfeitos”. Entende-se porque esta, seria o mais famoso retrato da jovem Sophia Margaret Gray. A obra foi pintada durante o movimento da arte pré-rafaelita que dividia espaço com o ultrarromantismo na literatura.
A composição que serviu de plano de fundo para a jovem Sophie, foi construída com base em outra pintura, agora a de “Ophelia”. O retrato de outra jovem, agora a da peça de Hamlet, escrita por Shakespeare. O mesmo sentimento que atrai e aproxima uma obra, das outras. "À sua volta, uma rica e densa vegetação, com árvores e flores de várias espécies. A vegetação é densa, composta por árvores como o salgueiro, troncos, urtigas, algas, capins e folhas e não permite a entrada da luz. As flores são pintadas meticulosamente e como são fiéis às originais, podem ser facilmente identificadas. Há rosas, lírios-d ’água, ranúnculas, margaridas, amores-perfeitos e lisimáquias e uma colar de violetas que envolve o pescoço de Ofélia. Essas flores são citadas no texto de Hamlet e possuem um simbolismo ligado à Ofélia. A simbologia das flores era um recurso bastante utilizado na época. As rosas corresponderiam à juventude, amor e paixão. As violetas, à fidelidade. As margaridas representariam a inocência. As ranúnculas, ingratidão. O amor-perfeito, pensamento ou amor efêmero. As lisimáquias estão associadas ao formato fálico. Dentre a vegetação, o chorão ou salgueiro representaria o amor abandonado, enquanto a urtiga, a dor. Outras flores não constam do texto literário e foram acrescentadas Millais, como os miosótis azuis ou não-me-esqueças, cuja simbologia está no próprio nome, as barbas-de-bode, que representam a futilidade, os adonis e as fritilárias, que simbolizam o sofrimento e a papoula vermelha com semente negra, que representa o sono e a morte. No entanto, essas flores estão quase murchas, sem o viço das flores recém colhidas, talvez para representar a efemeridade da vida de Ofélia, ceifada no esplendor da sua juventude. Um último aspecto que merece ser destacado é a figura do pássaro pintado no canto esquerdo superior da tela, entre os galhos do salgueiro, chamado robin. Trata-se de um pequeno pássaro marrom, com cabeça e peito vermelhos, que pode simbolizar a loucura de Ofélia, traduzida por seu canto e o vermelho, a paixão, podendo ser entendido como a perpetuação do canto e da voz de Ofélia mesmo depois de morta, através desse pássaro”.