Pensar as interrupções, os cortes.
Entender a fissura, a cicatriz. Perseguir
o ponto de desequilíbrio. O limite entre as instâncias, as duas margens do mesmo rio. Percorrer a narrativa que, em espanto e beleza, tenta reparar, suturar: o corpo, o texto, a experiência, a imagem. Em uma obra que se compõe e decompõe “fisiológica, físico-química, deserticamente”. Trata do vão, do oco
da linguagem, do sem fundo. Às vezes,
de uma instabilidade que a língua não
pode dar conta. A cicatriz de Marilyn,
tal qual a de Ulisses. No fazer poético,
a ama reconhece todos os dias o seu patrão, pela cicatriz em sua perna.
O reencontro dá-se na interrupção.
Nenhum contorno se confunde.
Vazio sígnico do buraco. Marcas, do corpo, do texto. Do corpo-texto. Como no escudo
de Aquiles. O corpo, como relação com o mundo. Trazer o “visível”, a travessia
entre os sulcos da pele, forjados a fórceps para a poesia. Manifestação do eu simbólico, do horror, do (des)amor, do sublime. Um coração a nu. Puerilmente honesta. Ofício, afazer, função reparadora. Costura. Como em “a cabeleira”, bebe-se
o vinho da saudade e está-se comendo recordações. Nenhuma distinção entre escritor e escrito. “buraco fundo; onde seu corpo, todo seu corpo é corpo-buraco.”
Sim, o drama: existencial, corporal.
A materialidade do abismo, da ausência,
do fim. Tensão da letra. Noticia, comunica.
Eis, Ulisses!