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quase balzaquiana?



















Antes de Emma Bovary, de Anna Kariênina: Julie.



Julie, é a personagem principal do livro “A mulher de trinta anos”, de Honoré de Balzac. Nesta obra o romancista não narra a história particular da personagem, e sim daquela a qual convergem as contradições do que representava ser mulher no século XIX.


“A situar o autor e a sua obra como precursores dos movimentos que exigem

“igualdade, fraternidade, liberdade”, também para as mulheres, que antes eram

“o negro do mundo” (segundo a canção de John Lennon), as escravas dos homens, dedicadas ao “princípio da realidade”, a casar, procriar, criar filhos, enquanto os nobres Senhores semifeudais, em meio ao tédio do ócio, dedicavam-se ao “princípio do prazer”,

em busca de orgasmos, fama e poderes infinitos”.


Embora não seja considerado o melhor livro do escritor, é o que lhe rendeu maior fama. Em sua versão final, a de 1842, ele inicia a narrativa detalhando os contornos da jovem, cheio de uma linguagem sensual, faz o leitor desejar.

A voz do observador transforma-se em antevisões de pai “Muitas vezes, as jovens criam imagens nobres, maravilhosas; imaginam figuras totalmente ideais e fabricam ideias quiméricas sobre os homens, sobre os sentimentos e sobre o mundo; depois, inocentemente, elas atribuem, a algum homem, as perfeições que elas mesmas sonharam, confiam nele e amam, no homem escolhido, essa criatura imaginária”.

A realidade anterior a “mulher balzaquiana”, era a das jovens, que em sua maioria se casavam aos quinze anos e para as outras que não se arrumassem antes dos vinte, o fardo seria, uma vida difícil. Diz-se que Balzac tenha “curado o amor do preconceito da mocidade” e tenha disseminado o casamento por amor, ao lugar das uniões por conveniência.

O divisor de águas é a transmutação da jovem em mulher, o que ocorre após o casamento. Uma Julie sem cor, sem movimento. “Em um daqueles momentos em que a alma fica sem saída, em que tudo é indiferente, tanto o bem quanto o mal, tanto o silêncio quanto a desconfiança” “Ela julgava a vida como um velho prestes a deixá-la”.

É quando Julie, completa trinta anos, que ela se torna capaz de criar uma linguagem própria à sua forma de ser. Seria essa, a idade poética da mulher: do respeito em ser feliz, de amar livremente.


“Uma mulher de trinta anos possui atrativos irresistíveis... uma jovem tem demasiadas ilusões, demasiada inexperiência, enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem que fazer. Uma cede, a outra escolhe ...a mulher experiente parece dar mais que a si própria; enquanto a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar, ela aceita o amor e estuda-o. Aquela apresenta-nos um só triunfo, esta obriga-nos a combates perpétuos. A jovem tem apenas uma vaidade e crê ter dito tudo, despindo o vestido; porém a mulher tem-nas em grande número e oculta-se sob mil véus.

Chegando a essa idade, a mulher obedece, pede e ordena, abaixa-se e eleva-se e sabe consolar em mil ocasiões em que à jovem apenas é dado gemer. Enfim, além de todas as vantagens da sua posição, a mulher de trinta anos pode tornar-se jovem, representar todos os papéis, ser pudica e embelezar-se até com a própria desgraça. Entre ambas, encontra-se a diferença incomensurável do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de deixar de sê-lo, nada deve satisfazer”.


Hoje, a “mulher de trinta anos”, está em toda parte: nas universidades, no trabalho, no mundo. Nos lares, no relacionamento, na maternidade. Suspeito, como sempre, que foi um homem o criador do pensamento libertário da mulher, aquele que dobrou a sua jornada, as suas responsabilidades (limpa, passa, cozinha, trabalha, estuda, amamenta, cuida do marido, sustenta) e, em promessa de um voo livre, comprometeu ainda mais o seu tempo.




Talvez tenha sido Balzac, ao descortinar a “mulher de trinta anos”.







Quase balzaquiana?


Ainda, beauvoiriana:

única submissão: tornar-me mulher

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